Imagina um Fiat Uno 1987, mas com motor de Yamaha R1, tração na traseira, câmbio borboleta, um motor 1000cc que gira a 14 mil RPM e com 150cv. Esse é a “botinha” modificada por Edson Terra para realizar o sonho de qualquer gearhead.
Sobre o Edson, ele é um cara que não aceita quando alguém lhe diz “isso é impossível”. Formado em Engenharia Mecânica, ainda na faculdade ganhou dois títulos da Maratona de Economia e construiu o Uno R1 com as próprias mãos.
Tudo começou em um leilão em 2008 quando arrematou uma Yamaha YZF – R1 2005 batida. Apesar da pancada feia que destruiu o garfo, o radiador e amassou o coletor de escape, a moto tinha tudo que Edson precisava para realizar seu projeto: motor, câmbio, etc. estavam inteiros e com apenas um ano de uso.
Depois de dois anos ele comprou um Uno 1.5R 1987. O carro foi escolhido principalmente pelo baixo peso – exatos 834kg aferidos em balança pelo próprio Edson na versão 1.5R e apenas 780kg na versão Mille atual.
O carro foi logo depenado e cortado para perder ainda mais alguns quilos. Na época Edson trabalhava em uma empresa que fabrica carros de competição. Com as ferramentas necessárias a disposição, começou o longo processo de adaptar a carroceria ao novo motor.
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Foi soldada uma estrutura tubular que além de aumentar a rigidez do monobloco, ajuda na segurança. A suspensão dianteira foi adaptada e a traseira foi construída praticamente do zero, restando do original apenas as bandejas. Foram usados amortecedores e molas da Fenix.
Depois disso o carro ainda passou por dois funileiros e foram compradas peças novas para deixar o carro com a mesma “cara” da última geração do Mille – faróis, para choques, para-lamas, capô e tampa do porta malas.
No cofre do motor do Uno ficaram: bateria e estepe, o tanque de 18 litros da R1 – com uma cobertura dos motores E.torq da Fiat – e o radiador original do carro, que é ligado ao motor por dois dutos.
O motor foi colocado em posição transversal logo atrás dos bancos dianteiros. A pequena maravilha de 998 cc da Yamaha rende 180 cv (brutos) e 10.9 kgf.m de torque. Comparado ao seu motor original, temos quase 100 cavalos a mais e perda de 2 kgf.m de torque. O único porém é de que o original entrega seu torque máximo em 3.500 RPM, enquanto no da moto só vem nas 10.500 RPM. Edson falou que a dificuldade na prática é só tirar o carro do lugar, precisando gastar um pouco mais de embreagem, mas depois é só alegria.
Para acionar o câmbio sequencial de 6 marchas da R1, foi utilizado um atuador eletrônico comandado por borboletas no volante, mas o pedal de embreagem foi mantido, substituindo o manete da moto. Ainda há um sistema de “backup” acionado por dois botões no painel caso os acionadores do volante falhem ou para manobras. No futuro, será instalado um sistema fixo de paddle shift. Interessante notar que não há marcha a ré no carro, assim como na moto, e Edson diz que nunca lhe fez falta.
O sistema de tração continuou como na R1 – pinhão e corrente. Mas agora passando por uma engrenagem planetária que serve de diferencial e daí para dois semi eixos que transferem a força para as rodas traseiras. A relação final ainda foi encurtada em 30% para compensar o peso extra.
As rodas escolhidas são do Civic 2005 com usinagem no diâmetro do cubo e pintadas de branco. Sempre pensando no peso, serão substituídas por outras mais leves. Os pneus são Pirelli Phanton 195/50 R15 para rua e para os track days, são usados pneus Toyo Proxes R888 semi slick na mesma medida.
Os freios são da Power Brakes com o mesmo diâmetro de disco original do Uno na frente (agora ventilados) e disco de 260mm atrás, no lugar do tambor. Foi usado o servo freio do Uno Turbo aliado a uma bomba de vácuo para compensar a falta de tomada de vácuo no motor da moto.
No interior foi retirado tudo o que não era necessário como forrações, console e a alavanca do cambio. Os bancos permanecem originais, mas serão substituídos por de competição da Sparco assim como os cintos, que serão de 4 pontos.
O painel também é do Mille 2013, mas com modificações. Os instrumentos principais vieram da R1, com adição de um manômetro de vácuo para o freio, Datatool, para indicar as marchas e uma sinaleira de funções básicas (faróis, seta, etc).
Volante e os acionadores são da marca Lotse, modelo Velox e New Step respectivamente.
No lugar do rádio, agora estão (da esquerda para direita na foto) chave geral, ignição, elétrica, botão de ignição. Um botão vermelho aciona a luz de ré em caso de necessidade (sem a alavanca de cambio não há sensor para aciona-la) e o verde a buzina.
Outro ponto bacana do carro é que ele está inteiramente documentado com permissão para rodar nas ruas, não por menos, pois o carro foi projetado para ser usado em passeios de final de semana e ocasionalmente em track days.
O som do carro causa certa confusão, pois vemos quatro rodas e ouvimos o ronco típico e agudo de uma moto vindo do escapamento. O carro possui um abafador para diminuir o volume vindo do escape de titânio da R1 que invade a cabine. Para as pistas, o abafador é retirado fazendo um sistema direto e ensurdecedor, é necessário usar protetores de ouvido dentro do carro.
Com tudo “no lugar onde deveria estar” e ajustado no “modo entusiasta”, o Uno ganhou uma dinâmica completamente diferente. Por exemplo no volante, que mesmo sem assistência é leve, pois não há mais o peso do motor em cima do eixo dianteiro. Falando em peso, Edson estima entre 650 e 700kg, um regime de quase 200 quilos e com divisão de peso, também estimada, de 50% para cada eixo. Em breve saberemos números exatos, pois o carro será levado para pesagem para determinar o peso em cada roda.
O projeto todo pode parecer uma insanidade, e de fato é. Alguns podem falar que ele conseguiria mais potencia com o motor original e outros palpites mais. Mas o caso é que Edson criou um Uno com dinâmica perfeita em seus mínimos detalhes, pensando em tudo com base em sua grande experiência e conhecimento em mecânica e anos de trabalho suado na “botinha” da Fiat.
O Uno R1 é ápice do entusiasmo gearhead de garagem. Uma inspiração para outros aficionados feita com as próprias mãos do dono, que mostrou que quando queremos, nada pode ser impossível.
Fotos: Ricardo Varoli
Texto: GearHeadBanger